dor pélvica crônica

7 mitos sobre dor pélvica crônica que precisamos abandonar

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7 mitos sobre dor pélvica crônica que precisamos abandonar

Milhares de mulheres convivem com dores intensas por anos antes de receberem um diagnóstico. Conversamos com o ginecologista Marcos Maia, especialista em endometriose e dor pélvica crônica, que explica os 7 mitos mais comuns que ainda atrasam o acesso ao cuidado adequado.

Durante décadas, mulheres que relatavam dores pélvicas intensas, cólicas incapacitantes ou desconforto durante a relação sexual foram ensinadas a normalizar esses sintomas. Frases como “é só cólica”, “engravidando, melhora” ou mesmo “isso é psicológico” se tornaram parte do imaginário coletivo, muitas vezes, inclusive, reforçadas em ambientes médicos.

A boa notícia é que esse cenário está mudando. Hoje, a ciência já reconhece que a dor ginecológica crônica é uma condição real, multifatorial e com profundo impacto na saúde física, emocional e social da mulher. E o mais importante: ela pode e deve ser tratada.

O que é dor pélvica crônica?

A International Association for the Study of Pain (IASP) define dor pélvica crônica como uma dor localizada abaixo do umbigo, persistente ou recorrente, com duração superior a seis meses e sem necessariamente estar ligada ao ciclo menstrual. Ela pode ter origem ginecológica, urinária, intestinal, neurológica ou muscular ou, ainda, envolver todas essas áreas de forma combinada.

Estima-se que até 15% das mulheres em idade reprodutiva vivam com dor pélvica crônica ao redor do mundo (IASP, 2017). Muitas enfrentam longos períodos até o diagnóstico correto, com passagens por diversos especialistas, medicações ineficazes e sentimentos de invalidação da sua dor.

Consultamos Marcos Maia, médico ginecologista especialista em dor pélvica crônica e endometriose, para conhecer os sete mitos mais vivenciados por mulheres que relatam sofrer com a condição.

Mito 1. “É só cólica. Toma um remédio.”

Cólica intensa e incapacitante não é normal. Segundo a American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), cólicas menstruais que impedem a mulher de realizar atividades básicas do dia a dia podem ser indicativo de endometriose ou adenomiose. A dor que não melhora com analgésicos comuns precisa ser investigada.

Mito 2. “Dor na relação sexual é normal.”

A dor durante a relação sexual, também chamada de dispareunia, é um sinal de alerta. Ela pode estar associada a endometriose profunda, alterações musculares, inflamações ou condições hormonais. Segundo The Lancet (2021), muitas mulheres com dor pélvica crônica apresentam também queixas de dor na penetração, e isso não deve ser banalizado.

Mito 3. “Se você engravidar, melhora.”

Embora algumas mulheres relatem alívio dos sintomas de endometriose durante a gestação, não é tratamento, nem impede a progressão da doença.  Além disso, condicionar a mulher a engravidar como forma de “resolver a dor” desconsidera sua autonomia e planos reprodutivos.

Mito 4. “É psicológico.”

A dor tem sim impacto emocional, mas não é criada pela mente da paciente. De acordo com a The Lancet Psychiatry (2021), há forte associação entre dor ginecológica crônica e transtornos mentais como ansiedade e depressão. No entanto, isso é consequência do sofrimento crônico, e não sua causa primária. Reduzir a dor a uma questão emocional perpetua o estigma e retarda o diagnóstico.

Mito 5. “Só cirurgia resolve.”

Embora muitas mulheres se beneficiem de procedimentos cirúrgicos, nem toda dor exige cirurgia. Existem abordagens clínicas, hormonais, fisioterapêuticas e comportamentais que podem ser eficazes, conforme cada caso. A FEBRASGO recomenda um plano terapêutico individualizado, baseado em evidência.

Mito 6. “Não tem cura.”

Algumas condições, como endometriose, de fato não têm cura definitiva, mas têm controle eficaz com o tratamento adequado. A ideia de que a mulher “vai sofrer para sempre” é desmotivadora e incorreta. O foco deve estar no alívio da dor, no restabelecimento da qualidade de vida e no suporte integral à paciente.

Mito 7. “Você vai ter que conviver com isso.”

A dor ginecológica não é destino. Com diagnóstico correto, tratamento multidisciplinar e acompanhamento contínuo, é possível reduzir significativamente a dor e devolver autonomia e bem-estar às mulheres. Estudos como o da NIH (National Institutes of Health) apontam que a abordagem integrada é a chave para a melhora sustentada.

A importância de uma escuta ativa e multidisciplinar

“Na prática clínica, vemos que muitas mulheres chegam ao consultório emocionalmente esgotadas, frustradas por não serem ouvidas ou por terem sua dor minimizada. Por isso, a escuta ativa é essencial. Mais do que um exame físico, é necessário construir uma relação de confiança, onde a paciente sinta que sua dor será levada a sério e invetsigada”, apontou o médico Marcos Maia.

Ainda de acordo com o especialista, o tratamento da dor ginecológica deve ser personalizado e multidisciplinar, envolvendo, quando necessário, ginecologistas, fisioterapeutas pélvicos, psicólogos, nutricionistas e especialistas em dor.

Se você sente dor ginecológica com frequência, especialmente durante a menstruação, a relação sexual ou atividades rotineiras, isso não é normal. “Dor é um sintoma, e como todo sintoma, ela tem uma causa e um caminho para ser investigada e tratada”, destaca o ginecologista.


Referências científicas:

  1. International Association for the Study of Pain (IASP) – definição de Chronic Pelvic Pain (dor pélvica crônica). https://www.iasp-pain.org/chronic-pelvic-pain-a-comprehensive-review/
  2. The Lancet, 2021 – Chronic Pelvic Pain in Women: Clinical Challenges and Research Priorities.  thelancet.com+4newindianexpress.com+4thelancet.com+4
  3. The Lancet Psychiatry, 2021 – Chronic pain and mental health in women: a global challenge
    Publicação que mostra que mais de 60% das mulheres com dor ginecológica crônica apresentam sintomas de depressão e ansiedade https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)00685-8/fulltext
  4. World Health Organization (WHO) – ficha técnica sobre endometriose (2021). https://www.thelancet.com/journals/lanpub/article/PIIS2468-2667(24)00053-7/fulltext
  5. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG)Committee Opinion No. 760 – Management of Chronic Pelvic Pain (2018)
    https://www.aafp.org/pubs/afp/issues/2021/0201/p186.html?utm_source=chatgpt.com
  6. FEBRASGO – Diretrizes sobre dor pélvica crônica e adenomiose (2022)
    Embora sem link específico disponível online, é a referência oficial usada em comunicação nacional. Versões resumidas podem ser solicitadas via site da FEBRASGO.
  7. NIH (National Institutes of Health) – abordagem multidisciplinar para dor pélvica crônica (2020)
    Aponta que a dor pode envolver múltiplas causas e requer avaliação integrada

Sobre o médico Marcos Maia

Marcos Maia é médico ginecologista formado pela Universidade São Camilo (2016) com Residência em Ginecologia e Obstetrícia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE, 2017-2020) e também especialização em Oncologia Ginecológica (IBCC, 2020-2022). 

É, também, especialista em Patologia do Trato Genital Inferior (PTGI) pela Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (ABPTGI) e em Endoscopia Ginecológica e Ginecologia e Obstetrícia pela Febrasgo – TEGO  (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Possui especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde (Fundação Getúlio Vargas, 2021-2022).

Sempre buscou aprimoramento profissional na área da saúde da mulher e políticas de saúde pública. Organizador e co-autor do Guia Prático de Saúde da Mulher e com participação na elaboração de capítulos do livro: sobre Epidemiologia e Saúde Coletiva.

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