Conhecido como “assassino silencioso”, o câncer de ovário deve acometer mais de 7 mil mulheres até 2025 e figura na segunda posição entre os cânceres ginecológicos mais comuns
No dia 8 de maio, comemora-se o Dia Mundial do Câncer de Ovário, doença que muitas vezes é chamada de “assassino silencioso”. Caracterizado por sua natureza insidiosa e poucos sintomas perceptíveis nas fases iniciais, este tipo de câncer exige uma conscientização contínua e um acompanhamento médico regular para a detecção precoce.
De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para cada ano do triênio de 2023 a 2025, o Brasil enfrentará aproximadamente 7.310 novos casos de câncer de ovário, com um risco estimado de 6,62 casos para cada 100 mil mulheres. Embora ocupe a 19ª posição entre os tipos mais frequentes de câncer, é o oitavo mais incidente entre as mulheres e o segundo mais comum entre os cânceres classificados como ginecológicos.
“Entre todas as áreas que abrangem a saúde da mulher, os cânceres ginecológicos exigem atenção especial e precisamos falar mais sobre eles. Sangramento vaginal anormal, dores pélvicas, inchaço abdominal, lesões na vagina, como corrimento fétido e feridas, e perda de peso sem causa aparente, são sinais de alerta”, explicou o médico Marcos Maia, especialista em ginecologia oncológica. “Mas é preciso deixar claro que os sintomas desses tumores variam muito de acordo com o tipo e a localização, então é fundamental as mulheres ficarem atentas a esses sintomas e, se apresentar um ou mais, procurarem um especialista”, complementou.
A doença é conhecida por surgir predominantemente na pós-menopausa, e fatores genéticos, histórico familiar e exposição a determinados agentes estão associados ao seu desenvolvimento. A detecção precoce é fundamental para aumentar as chances de sobrevivência. “Para as mulheres, é essencial entender os sinais de alerta, que podem incluir aumento do volume abdominal, sensação de ‘estar cheia’ mesmo sem ter comido muito, dor abdominal ou pélvica e necessidade urgente e frequente de urinar. Uma dica interessante é anotar em uma espécie de diário os sintomas, pois pode ser muito útil para discutir com o seu médico durante as consultas”, orientou Marcos Maia.
Um equívoco comum é a crença de que o exame de papanicolau detecta o câncer de ovário. Na realidade, esse exame verifica apenas alterações pré-cancerosas nas células do colo do útero, não oferecendo uma detecção direta deste tipo de câncer. “Para um diagnóstico precoce e preciso, é fundamental que mulheres entendam a importância de realizar exames ginecológicos específicos e de buscar atendimento médico diante de quaisquer sintomas preocupantes, que fujam da sua rotina”, explica o especialista.
De acordo com levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), cerca de 70% a 80% das mulheres diagnosticadas com câncer de ovário no Brasil morrem, por causa direta desta doença, em menos de cinco anos após o diagnóstico. Esse dado é reflexo, principalmente, da alta taxa de diagnóstico tardio no Brasil. Cerca de 80% dos casos de câncer de ovário são descobertos já em fase avançada da doença.
Prevenção e detecção precoce
A importância dos exames ginecológicos na prevenção do câncer de ovário não pode ser subestimada. A realização de exames de rotina e consultas regulares com um ginecologista podem desempenhar um papel fundamental na detecção precoce. Dentre os exames disponíveis, Marcos Maia, médico especialista em ginecologia oncológica, destaca:
- Ultrassom: Utilizando uma pequena sonda inserida na vagina ou posicionada sobre o abdômen, este exame proporciona uma visualização detalhada, identificando possíveis anomalias nos ovários.
- Ressonância Magnética: Esta modalidade oferece imagens precisas dos ovários, auxiliando na detecção de anormalidades nessa região com maior precisão.
- Laparoscopia: Através da inserção de um tubo fino, semelhante a uma câmera, os médicos conseguem avaliar o tamanho de potenciais tumores.
- Exames de Sangue: Além dos exames mencionados, é essencial realizar testes sanguíneos para identificar possíveis irregularidades. No caso do câncer de ovário, é comum que certas proteínas estejam em níveis elevados.
Embora os desafios associados ao câncer de ovário sejam significativos, a conscientização sobre os sinais de alerta e a importância da detecção precoce podem ajudar a salvar vidas.
Avanços e opções de tratamento para Câncer de Ovário
O tratamento do câncer de ovário tem sido uma área de intensa pesquisa e desenvolvimento, com novas opções terapêuticas emergindo para oferecer esperança e melhores resultados para os pacientes. “A abordagem do tratamento depende da extensão do câncer, se está confinado ao ovário ou se espalhou para outras áreas do corpo, por exemplo. Mas, geralmente, cirurgia e quimioterapia são os pilares tradicionais do tratamento, e ainda são eficazes mesmo em estágios avançados da doença”, explicou o médico Marcos Maia.
Em alguns casos, quando a cirurgia não é viável ou quando o câncer está localizado apenas no ovário com bom prognóstico, a cirurgia pode ser seguida por terapia direcionada, ou até mesmo a preservação do útero e do outro ovário podem ser consideradas, especialmente em pacientes jovens.
Já para pacientes com câncer de ovário avançado, o ginecologista oncológico explica que a histerectomia é frequentemente indicada, envolvendo a remoção cirúrgica do útero e do colo do útero, bem como de qualquer outro tumor que possa ter se disseminado para fora do ovário. No entanto, é importante ressaltar que a remoção do útero implica na impossibilidade de engravidar.
Além das abordagens convencionais, terapias mais recentes têm se destacado, incluindo medicamentos-alvo como antiangiogênicos e inibidores de PARP. “Estes últimos, em particular, têm demonstrado ser altamente eficazes como terapias de manutenção, especialmente para pacientes com mutações no gene BRCA, oferecendo uma nova esperança no tratamento do câncer de ovário”, explicou o especialista.
Os avanços no tratamento do câncer de ovário representam um passo significativo na melhoria dos resultados e na qualidade de vida dos pacientes. No entanto, é fundamental uma abordagem personalizada, considerando o tipo de tumor, a extensão da doença e as características individuais de cada paciente. A pesquisa contínua e a inovação são essenciais para continuar avançando na luta contra a doença.
Sobre o médico Marcos Maia
Marcos Maia é médico ginecologista formado pela Universidade São Camilo (2016) com Residência em Ginecologia e Obstetrícia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE, 2017-2020) e também especialização em Oncologia Ginecológica (IBCC, 2020-2022).
É, também, especialista em Patologia do Trato Genital Inferior (PTGI) pela Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (ABPTGI) e em Endoscopia Ginecológica e Ginecologia e Obstetrícia pela Febrasgo – TEGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Possui especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde (Fundação Getúlio Vargas, 2021-2022).
Sempre buscou aprimoramento profissional na área da saúde da mulher e políticas de saúde pública. Organizador e co-autor do Guia Prático de Saúde da Mulher e com participação na elaboração de capítulos do livro: sobre Epidemiologia e Saúde Coletiva.